O governo do Estado informa ter aplicado mais de 250 multas por consumo de drogas em espaços públicos em apenas uma semana. Político experiente que é, Jorginho Mello, sabe que o eleitor conservador é radicalmente contra a liberação da maconha. E se tem uma máxima que vale ouro a menos de um ano das eleições é a de que, em time que está ganhando, não se mexe.
O termo maconheiro é usado frequentemente como sinônimo de vagabundo, desleixado, que não estuda, não trabalha e ainda alimenta o tráfico, com o dinheiro gasto no seu “baseadinho”. A questão da liberação, assim como a punição, é um tema complexo, que renderia uma longa discussão.
O problema é que, atualmente, no Brasil, todo e qualquer debate sério se perde em meio à polarização das narrativas, especialmente nas redes sociais. Mas avancemos, mesmo que minimamente, desprovidos de pré-conceitos.
Proponho aqui um singelo exercício empírico aos maiores de 18 anos: puxe pela sua memória. É muito provável que você já tenha ouvido falar sobre alguém da família, do grupo de amigos ou até mesmo de um colega de trabalho que fuma maconha.
Mas, ao contrário do senso comum, esta pessoa é um primo querido e estudioso, um amigo presente ou alguém com futuro promissor na empresa. Logo é possível afirmar que o uso recreativo ultrapassa a parcela do extrato social estereotipada como marginal, que também existe pelas ruas, registre-se.
Reitero: isto é apenas uma reflexão, sem julgamentos.
Pergunte a um policial experiente quantas ocorrências envolvendo brigas, marido batendo na mulher, acidentes de trânsito ou até mesmo homicídios foram protagonizadas por quem havia “somente” fumado maconha. Sem pensar muito, dirá que não enchem uma mão. Troque a maconha pelo álcool e repita a mesma pergunta. A resposta será imediata: diariamente. Ah, Rafael Martini, então você quer me convencer agora que o maconheiro é bonzinho e o trabalhador que toma sua gelada, no bar, é o bandido?
Nada disso. O que digo, e reafirmo, é que a verdadeira porta de entrada para as drogas entre os jovens é o álcool. Isto já é consenso entre os pesquisadores mundo afora. Mesmo para os adolescentes, o acesso à bebida é relativamente fácil e, de certa forma, até tolerado na social do sábado à noite. Depois de ficar alegrinho, dar um trago no cigarrinho verde já não parece mais transgressão.
Como explicar que a bebida, responsável por destruir mais vidas e famílias do que qualquer outra droga, é exaltada impunemente como sinônimo de socialização e de alegria no Brasil.
Tão ou mais urgente do que se discutir sobre a maconha, é preciso olhar com atenção para os problemas causados pela “marvada” a milhares de famílias, sob o olhar complacente das autoridades. Mas também considero ufanista de minha parte esperar que algo mude em um lugar onde a venda de bebida em posto de combustível é legal.
-5 de dezembro de 2025
