A prefeita de Balneário Camboriú, Juliana Pavan, deve sancionar nesta sexta-feira (19) o novo Plano Diretor do município, aprovado pela Câmara de Vereadores, que prevê, entre outras medidas, a proibição do naturismo em qualquer praia da cidade. A mudança atinge diretamente a Praia do Pinho, a primeira praia de naturismo oficial do Brasil, criada há quase quatro décadas. Trata-se de uma decisão legítima do ponto de vista institucional, ainda que questionável sob a ótica cultural, turística e urbana.
A lógica adotada para justificar a decisão — que também deverá ser reforçada por meio de decreto — conta com apoio expressivo no debate local. Mas, para usar uma expressão recorrente nos últimos dias, parece ter pesado a mão na dosimetria.
Proibir o naturismo para combater desvios é como derrubar a casa para matar a barata: elimina-se uma estrutura consolidada para tentar conter comportamentos pontuais e ilegais que nunca fizeram parte da essência da prática naturista.
As justificativas oficiais falam em garantir a chamada “tranquilidade pública”, em resposta a episódios isolados envolvendo segurança e produção de conteúdo adulto. O problema é que, ao mirar na nudez, a decisão desloca o foco do que realmente exige ação do poder público: fiscalização, presença do Estado e repressão a atividades ilícitas, independentemente do local onde ocorram.
Com cerca de 500 metros de faixa de areia, localizada entre as praias de Laranjeiras e do Estaleirinho, a Praia do Pinho sempre operou sob regras próprias, com códigos de conduta claros e reconhecimento nacional e internacional. Ao extinguir essa condição, a cidade não elimina o desvio — apenas descaracteriza o espaço e não resolve o problema. É uma solução que atua na aparência, não na causa. Como jogar o tapete fora para não varrer a sujeira, o incômodo sai do campo de visão, mas permanece no chão.
Balneário Camboriú não é uma cidade qualquer. Tornou-se um polo de referência nacional, especialmente no mercado imobiliário, no turismo e na geração de riqueza. Sua economia figura entre as mais dinâmicas do país, com destaque recorrente no noticiário econômico. Justamente por isso, chama atenção que o comportamento de alguns seja suficiente para provocar uma decisão com impacto direto na imagem do município.
Inserida nesse contexto, a mudança parece menos um debate sobre costumes e mais uma escolha sobre qual cidade se quer projetar. Ao eliminar a exceção, o município sacrifica diversidade cultural para preservar uma ideia homogênea de ordem — ainda que isso não garanta, na prática, a tranquilidade prometida.
Ao sancionar o novo Plano Diretor com essa alteração, Balneário Camboriú corre o risco de confundir gestão com gesto simbólico. Derruba-se a casa, expulsa-se a tradição, mas a barata — como costuma acontecer — encontra outro canto para se esconder.
Como escrevera Nelson Rodrigues, o maior dramaturgo brasileiro e conservador por excelência, no título de uma de suas obras mais provocadoras:
Toda a nudez será castigada.
-18 de dezembro de 2025
