Ao desautorizar que a bandeira da UFSC fosse colocada sobre o caixão do professor Rodolfo Pinto da Luz, a viúva, Lígia, provavelmente não imaginava a repercussão que seu ato teria. Naquele momento ela apenas saiu em defesa da memória do seu companheiro de vida, porque tinha a dimensão da dor enfrentada pelo ex-reitor ao ver negada a outorga de Professor Emérito. Não pelo título em si, até porque o professor Rodolfo era refratário às homenagens, mas pelo gesto. Afinal, ele dedicara mais de 30 anos da sua vida pública à universidade.
É verdade que o Brasil foi um dos únicos a não punir militares que mergulharam o país na Ditadura. Em busca de Justiça, mesmo que tardia, surgiram entidades como a Comissão Verdade e Justiça, que se dedica a jogar luz nos acontecimentos daquela época, em especial nos anos 1960 e 1970. Qualquer cidadão que se diga democrata deveria apoiar tal iniciativa. O problema é que, muitas vezes, este distanciamento histórico, afinal lá se vão 50 anos, também pode dar margem a interpretações distorcidas ou até direcionadas.
Cobrar punição para quem prendeu, torturou e até matou homens, mulheres ou crianças, de maneira deliberada e covarde, é uma coisa. Agora, imaginar que qualquer ocupante de cargo público em evidência, durante o Regime, não teria sua vida devassada em busca de um mínimo indício de ligação com os comunistas, é outra. Apontar o dedo para acusar os ex-reitores Rodolfo Pinto da Luz ou João Davi Ferreira Lima de ligação com os militares, tem fortes indícios que se enquadram na segunda alternativa.
Ao olhar para o passado, sem a devida contextualização, corre-se o risco de cometer excessos. É imperioso compreender que, um simples passo fora da linha, poderia significar a própria vida ou de seus familiares. Tais premissas também deveriam ser levadas em conta antes do julgamento sumário como apoiadores do Regime.
Com todas as garantias asseguradas pelo pleno funcionamento do Estado Democrático de Direito, hoje em dia, o revisionismo sobre o comportamento de outrora é uma prática cada vez comum.
Difícil é avaliar, de maneira isenta, como eles viviam naquela época e as escolhas que, por vezes, se faziam necessárias. Não era uma questão ideológica como a que está posta hoje. Era, literalmente, uma escolha entre viver ou morrer. Ou como diz o ditado: todo mundo é ateu, até a hora em que o avião começa a cair.
-30 de julho de 2025