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terça-feira - 23 de dezembro de 2025

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23/12/2025

Morte de Catarina não pode cair no esquecimento

Há pouco mais de um mês, em 21 de novembro, Florianópolis foi impactada por um crime que não pode ser tratado como mais um. O feminicídio de Catarina Kasten, cometido de forma bárbara em uma trilha rumo ao Matadeiro, no Sul da Ilha, rompeu qualquer narrativa de normalidade e expôs, de maneira crua, a violência que segue rondando a vida das mulheres — inclusive em espaços públicos, abertos, teoricamente seguros.

A morte de Catarina não foi um episódio isolado. Foi um alerta. Um ponto de ruptura que, passados mais de 30 dias, ainda não se consolidou como marco. O choque inicial existiu, a comoção também. Mas o tempo avançou sem que o crime produzisse mudanças estruturais, protocolos novos ou respostas à altura da gravidade do que ocorreu.

Os números ajudam a entender por que esse silêncio é perigoso. Apenas nos bairros da Armação, Armação do Pântano do Sul e Pântano do Sul, 63 mulheres foram vítimas de ameaças, lesões corporais e estupros em 2025. São dados oficiais que, embora frios, desenham um mapa claro de vulnerabilidade. Cada registro dialoga diretamente com o que aconteceu com Catarina — e com o risco permanente de repetição.

Há quem destaque uma queda de 11% nas ocorrências em relação a 2024 como sinal de melhora. É uma leitura superficial. Na violência de gênero, a subnotificação é regra. Menos boletins não significam, necessariamente, mais segurança — podem significar mais medo, mais descrença no sistema, mais silêncio. Um único feminicídio é suficiente para desmontar qualquer discurso de tranquilidade estatística.

O problema não está na ausência de leis, mas na lentidão em transformá-las em prática cotidiana. A violência contra a mulher tem dinâmicas próprias, ciclos conhecidos e sinais prévios. Exige políticas públicas contínuas, integradas, com prevenção, acolhimento e resposta rápida. Até agora, a morte de Catarina não gerou esse ponto de virada.

Marcos não se constroem com discursos ou homenagens simbólicas. Constroem-se quando um crime muda rotinas do Estado, acelera decisões e deixa claro que aquela morte não será absorvida pela estatística. Um mês depois, isso ainda não aconteceu.

Lembrar 21 de novembro não é apenas um exercício de memória. É um ato de cobrança. Porque enquanto o nome de Catarina Kasten não representar um divisor de águas no enfrentamento à violência contra as mulheres, o risco segue presente — silencioso, cotidiano e perigosamente normalizado.

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