O desembargador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina João Marcos Buch, casado com o advogado e empreendedor Lucas Dalbem Fasolo Buch, foi vítima de ataque homofóbico em um grupo de WhatsApp composto por advogados. O magistrado expôs o caso em suas redes sociais e comentou de forma firme:
“Não relevo, não deixo passar e reajo. Inclusive, dou publicidade, preservando a identidade de quem me atacou, que poderá, a seu tempo, dizer o motivo de tanta virulência.”
Buch tem sido alvo recorrente desse tipo de violência pelo simples fato de viver publicamente sua relação afetiva com outro homem. Dono de uma carreira ilibada e reconhecido pelo trabalho exemplar na magistratura, sua postura resiliente e combativa é digna de aplausos. O que lamentar — e registrar — é que tamanha ignorância criminosa tenha partido exatamente de um advogado, profissional que deveria defender os pilares da Justiça.
O destino quis que o ataque viesse às vésperas do Encontro Nacional do Judiciário, aberto nesta segunda-feira, em Florianópolis, reunindo representantes de todo o sistema de Justiça brasileiro. O presidente do STF, Édson Fachin, a ministra Cármen Lúcia e o ministro Alexandre de Moraes participam do encontro organizado pelo Conselho Nacional de Justiça.
Uma manifestação pública — mesmo que breve, da tribuna do evento — em defesa intransigente de um dos seus enviaria uma mensagem clara ao país: o Judiciário não tolera mais práticas criminosas, ignorantes e preconceituosas. Notas de repúdio e solidariedade são importantes e formais; mas, na prática, seu efeito social é limitado. Uma fala firme, diante de magistrados de todo o Brasil, muda cenários.
Juízes, desembargadores e ministros reunidos no encontro têm diante de si uma rara oportunidade de liderança moral. A chance está posta. Falta saber se alguém ousará se posicionar publicamente.
João Marcos e Lucas Buch não são exceção. Milhares de outros casais homoafetivos enfrentam diariamente o mesmo tipo de violência.
A Justiça é cega — mas não pode ser surda ao que acontece bem debaixo da toga, especialmente em Santa Catarina.
