Não importa o gênero, a cor, raça ou a religião. Não interessa se é de direita ou de esquerda, se torce para o Figueirense ou para o Avaí, Flamengo ou Vasco. Nem tão pouco a renda, se vive de bolsa família ou mora na Beira-mar Norte.
Nada disso terá importância na noite desta sexta-feira (17). Um daqueles raros momentos em que os brasileiros estarão unidos em torno de um único interesse: descobrir quem matou Odete Roitman (Debora Bloch).
A expectativa da Rede Globo é de que a novela alcance uma daquelas audiências históricas, há muito não registradas pelo Ibope. O mistério está sendo guardado a sete chaves e foram gravadas nada menos do que 10 versões diferentes. O último capítulo do remake de Vale Tudo deve começar por volta das 21h20 e terminar as 22h30.
As redes sociais serão inundadas de posts em tempo real. Mesmo que você não seja noveleiro, será difícil ficar alheio ao tema. Na Oktoberfest de Blumenau, por exemplo, a festa será interrompida na Vila Germânica para que todos possam descobrir quem foi o assassino.
Agora imagine você, caríssimo leitor, se tamanha mobilização ocorresse em torno de debates sobre a vida real, dos problemas que afetam toda a sociedade. Sem dúvida seríamos uma nação com mais saúde, segurança, melhor distribuição de renda e, principalmente, veríamos a corrupção endêmica de 500 anos ao menos sentir-se acuada. Falta educação continuada de qualidade, não há mais empatia com o próximo para um singelo bom dia.
Enquanto isso, a impunidade segue dando as cartas, com o narco estado expandindo seus tentáculos por todos os setores. O problema não está na novela, por óbvio, um dos nossos ícones nacionais. A questão é outra: o país vai parar para descobrir quem matou Odete Roitman. No dia seguinte, tudo volta ao normal, sem tempo para olhar o mundo para além da tela do celular. Como já cantou Cazuza: Brasil, mostra sua cara, quero ver quem paga, pra gente ficar assim.
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